Mais tarde, em 1690, D. Pedro II, "sendo informado que o Regimento que o Senhor Rei D. Sebastião mandou dar á Fábrica dos Panos deste Reino no ano de 1573, se não guardava”, mandou promulgá-lo novamente na integra, para que "se cumprisse e guardasse" exactamente em todos os seus 96 capítulos.
No século que mediou entre a promulgação do Regimento de 1573 e a do Regimento de 1690 deram-se acontecimentos históricos nacionais - a batalha de Alcácer-Kibir, a dominação filipina, a restauração de Portugal, as guerras da independência - que influíram profundamente na política, na administração pública e na indústria da Nação. A indústria de lanifícios ou a fábrica dos panos, sofrera também, como outras indústrias, nesse período histórico, as consequências da ruinosa administração filipina.
Após a restauração de Portugal era urgente reorganizar essa indústria que florescera já bastante nos reinados de D. Manuel, D. João III e D. Sebastião e decaíra lamentavelmente na dinastia dos Filipes.
Com esse intuito o rei D. Pedro II, ao promulgar o Regimento de 1690 mandou acrescentar ao Regimento precedente de 1573 os onze capítulos finais (97 a 107) para o tornar mais conforme á "mudança e variedade dos tempos e á experiência do que melhor convinha".
E assim o REGIMENTO DA FÁBRICA DOS PANOS, promulgado por D.Sebastião (96 capitulos) acrescentado com onze capítulos (97 a 107) do Regimento de D.Pedro II , foi a Magna Carta da indústria dos lanifícios em Portugal. Esteve em vigor durante mais de dois séculos e meio, exactamente 261 anos, - até que foi ab-rogado em 1834, na monarquia constitucional.
A primeira associação industrial de lanifícios surgiu em 1820, com a denominação de Grémio da Covilhã, cidade onde já existia um número considerável de fábricas. Este Grémio tinha a sede em Lisboa, por óbvias razões.
Sucedeu-lhe em 1889, a Associação Industrial e Comercial da Covilhã, de que foi primeiro Presidente da Direcção o Comendador José Maria da Silva Campos Melo, industrial e filantropo, grande impulsionador da modernização da Industria de lanifícios e que criou a primeira Escola Industrial em Portugal, onde se formaram durante oitenta anos os técnicos desta Indústria.
Esta associação durou até 1936, quando após longas conversações com o governo e depois de serem aceites as condições que os industriais exigiram, de autonomia de gestão e de independência económica, se transformou em Federação e nos seus respectivos grémios.
A Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios, a que presidiu durante 33 anos o Dr João Ubach Chaves, dispondo de importantes valores, criou a Caixa de Previdência da Industria de Lanifícios, com benefícios especiais, mandou construir um bairro social para trabalhadores da indústria, possuía 2 centros de férias de praia para filhos de trabalhadores e construiu um edifício para armazenamento, condicionamento de lãs e outros laboratórios de análise. O custo total do investimento, em 1949, foi superior a 25 000 contos, totalmente provenientes de fundos próprios.
A FNIL, consciente do deficit académico dos quadros da indústria, a Escola Industrial Campos Melo não dava já resposta às novas exigências da modernização tecnológica, criou, em 1956, bolsas de estudo no valor total anual de 500 contos, para técnicos da indústria se licenciarem em engenharia têxtil, nomeadamente na Inglaterra, na Bélgica e em França o que trouxe a muitas fábricas a mais-valia técnica em falta.
Com a assinatura do tratado da EFTA em 1960 ( European Free Trade Association) a FNIL tentou antecipadamente incentivar as empresas a fundirem-se em unidades de maior dimensão, com o fim de melhor enfrentarem a acrescida concorrência externa que o acordado progressivo desmantelamento das barreiras alfandegárias iria eventualmente causar.
Muitas das mais de trezentas e cinquenta fábricas de lanifícios, então registadas na FNIL, tinham dimensões muito reduzidas e parecia razoável acreditar que não poderiam sobreviver face à concorrência da poderosa indústria de lanifícios britânica. No entanto, e por votação realizada nos diferentes grémios, a ideia foi rejeitada por maioria.
Salvo negócios esporádicos e alguns ruinosos, as fábricas de lanifícios não exportavam e, abrindo-se nesse momento as fronteiras de países como a Áustria, a Dinamarca, o Reino Unido, a Suécia, a Noruega e a Suíça, havia que dotar as empresas, nisso interessadas, do know-how necessário.
Não tendo resultado a concentração de empresas, a FNIL incentivou, comparticipando nas despesas, 5 empresas a constituírem uma sociedade de exportação e importação, que funcionou durante 7 anos, que foi a pioneira da exportação sistemática de lanifícios portugueses e a origem do necessário conhecimento que aproveitou a toda a indústria.
O industrial, jornalista e político, José de Bastos Rabaça, nomeado em 1969 para presidir à FNIL, após a reforma do Dr Ubach Chaves, revitalizou a pesada estrutura em que se tinha, entretanto, transformado a FNIL, aliviou a burocracia e democratizou a gestão da Federação.
Em 1970, um grupo de covilhanenses, à frente dos quais estava Manuel Mesquita Nunes, então Presidente do Grémio da Covilhã e que se destacou como grande industrial nos anos 60 do século XX, lançou as bases para a fundação do Instituto Politécnico da Covilhã, que se destinou principalmente a formar técnicos e gestores para a indústria têxtil e que veio a dar origem à Universidade da Beira Interior.
Com o desmantelamento do sistema corporativo em 1974 e após várias assembleias gerais com a presença de centenas de industriais, ficou decidido por grande maioria, fundar a Associação a que se deu o nome de Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios, decidindo-se também, após votação cerrada, localizar a sede na Covilhã. José de Bastos Rabaça como último presidente da FNIL presidiu a estas reuniões, mas decidiu desligar-se deste movimento associativo, pelo que foi Manuel Mesquita Nunes que impulsionou a realização da escritura de fundação em 20 de Dezembro de 1974 na secretaria notarial da Covilhã e que foi assinada por representantes de várias fábricas.
Em 1975, o governo português nacionalizou todos os bens da FNIL e dos seus grémios. Nesta sequência e não tendo ainda havido eleições para os órgãos sociais, foi formada uma comissão de industriais, a que presidiu o industrial Paulo Nina de Oliveira, com o principal objectivo de recuperar o património e ainda de gerir as negociações com os sindicatos, recusando perante os sucessivos governos constituir formalmente a Associação até à devolução do património, pela razão de a FNIL nunca ter recebido dinheiros públicos.
Tornando breve o que foi uma luta muito dura e que se prolongou por uns exaustivos 5 anos, o património da FNIL foi devolvido em 1979, foram promovidas as eleições para os órgãos sociais e a Associação começou a funcionar com normalidade.
Foi primeiro Presidente da Direcção, Paulo Nina de Oliveira, sucessivamente reeleito até 1994. Foi Presidente da Interlaine entre 1995 e 1997 e Presidente da Comissão de Tecelagem da IWTO entre 1994 e 1996. Actualmente é Presidente da Assembleia Geral e do Conselho Geral da Anil.
Com um curriculum extraordinário e único, como Industrial de Lanifícios, o Comendador Paulo de Oliveira emprestou à Anil toda a sua competência, realizando uma obra notável como dirigente associativo.
Da sua gestão destacamos:
-Filiação na Interlaine (1980)
-Filiação na IWTO (1981)
-Filiação na Federação da Industria Têxtil e do Vestuário Portuguesa (1986)
-Reestruturação da Indústria de Lanifícios (1987)
-Acordo protocolar com o ICEP para apoio ao design das colecções de fios e tecidos (1989)
- Fundação do CITEVE em Vila Nova de Famalicão e na Covilhã (1990)
-Fundação do CILAN (1992)
-Construção do Pavilhão de Exposições (1992)
Sucedeu-lhe em 1995 o Dr Joaquim Mota Veiga, membro da Direcção desde 1979 e influente vice-presidente da Anil entre 1986 e 1995.
Para além de continuar as acções iniciadas pelo seu predecessor, dedicou muita atenção à luta contra a globalização desgovernada do comércio que já se previa vir a acontecer, intervindo amiudadas vezes junto do governo, numa defesa brilhante e aguerrida da indústria de lanifícios portuguesa, contribuindo decisivamente para proteger até ao limite, as principais posições pautais alfandegárias dos lanifícios.
Dedicou especial atenção ao desenvolvimento das feiras realizadas no pavilhão de exposições no que teve o apoio e entusiasmo do Engº Robalo, então vice-presidente da Direcção e que se tornaram durante os seus mandatos num dos principais rendimentos da Anil. Tiveram especial sucesso comercial os encontros têxteis com fábricas de confecção espanholas nos anos de 1999 e 2000, com resultados bem visíveis no aumento das exportações laneiras para aquele país.
Uma doença grave no ano de 2000, obrigou-o a abandonar as suas actividades como industrial e como dirigente associativo. Foi vogal 7 anos, vice-presidente 9 anos e Presidente da Direcção 6 anos, num total de 22 anos de dedicação à vida associativa. Foi ainda vice-presidente da Interlaine entre 1993 e 1995 e membro do Conselho de Administração do Citeve desde a sua fundação até 2003.
Eleito pela 1ª vez em 2003, o engº José Alberto Robalo actual Presidente da Direcção, tem dado uma sequência importante à obra dos seus antecessores, destacando-se com intervenções de grande coragem junto dos poderes públicos, nacionais e da União Europeia.
Membro do actual Conselho de Administração do Citeve, é também Presidente da Federação Textil e do Vestuário de Portugal, que reúne, para além da Anil, a Anit-Lar e a Anivec/Apiv e é nessa qualidade que frequentemente interpela os grupos parlamentares e o Governo, chamando a atenção para a destruição da indústria transformadora a que as politicas governamentais e europeias conduzem. Foi já na sua presidência da Federação e por pressão desta, que foi criada uma subcomissão económica do parlamento para a têxtil e vestuário, com as vantagens inerentes.
A presente Direcção tem mandato até Setembro de 2009.
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