sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sabia que... II

Fontes:
"Seia - porta aberta para a Serra da Estrela..." - Héstia editores (2002)
"O Concelho de Seia em Tempo de Mudança", dos finais do século XIX ao desabar da 1ª República - Maria Lúcia Brito Moura (1997)
"Monografia da Cidade e Concelho de Seia" - Padre Dr. J. Quelhas Bigotte (1992, 3ª edição) 

No inicio do séc. XIX, a crise acentuou-se, com as invasões francesas, abertura dos portos brasileiros e a outras nações e com o reforço do tratado comercial com a Inglaterra. Isto tudo prejudicou os lanifícios portugueses. Em 1818 as exportações de lanifícios caíram para 1/6 em relação ao ano de 1796. Só no segundo quartel do mesmo séc. aparecem os grandes investimentos capitalistas no sector. A industria de lanifícios tinha o primeiro lugar no investimento de capital fixo e corrente, em importação, de novos equipamentos, na construção de novas fábricas e naturalmente na dimensão do emprego criado. Em 1916, deveriam laborar no nosso País cerca de 160 fábricas ou oficinas de lanifícios. Em relação ao nosso concelho (Seia), já em 1881, num "Inquérito Industrial", eram referidas algumas oficinas de lanifícios em Seia (2), em São Romão (3), Loriga (7), e Alvoco da Serra (3).



Em Valezim desde 1866 que o industrial, Cândido Augusto Albuquerque Calheiros tinha uma oficina-fábrica (chamada de "Engenho") de fiação e cardação de lã. (já fizemos referência a esta fábrica em post anterior, na 1ª metade do séc. XVIII, possivelmente como tantas outras foi comprada e alterado o seu nome). Este mesmo industrial recebeu o titulo de Conde de Refúgio e depois de Conde da Covilhã e expandiu a indústria na região, em particular na vila de Unhais da Serra. Algumas das fábricas foram alterando o nome/proprietário ao longo do tempo, por exemplo; Dias & Pereira (Ceia (Vodra)), 1875, passa para João Dias & Sócio em 1905. Já em 1939, com apenas 20 operários é comprada aos herdeiros de João Dias pelo Comendador Joaquim Fernandes Ferreira Simões, pouco antes do inicio da segunda guerra mundial.
Nestas empresas fabricavam-se saragoças, briches, pano-mescla, baetas e palmilhas. No seu conjunto eram ainda muito tradicionais, imperando a roda hidráulica. Começam aparecer as máquina a vapor, força motriz alternativa. Curiosamente foi uma oficina-fábrica de pequena dimensão a 1º a possuir esta novidade industrial. A Dias & Pereira em Vodra, tinha uma máquina de 11 cavalos (fraca potência), mas a alternativa possível para fazer face à redução do caudal da ribeira de Vodra na estação seca. A máquina não funcionava todo o ano, no Inverno a energia utilizada era apenas hidráulica. Havendo pouca água trabalhavam as duas em simultâneo e no Verão, quando a ribeira secava, apenas podia ser usada a máquina a vapor.
Estas dificuldades obrigavam a uma cuidadosa gestão da água, surgindo mesmo conflitos entre agricultores e industriais, o que levava a que se recorresse frequentemente a trabalhos à noite, quando a água ficava mais disponível para a indústria, porque os lavradores não regavam. Apesar das quezílias, é unânime que a existência de energia hidráulica na Serra da Estrela, foi a principal culpada pelo atraso na introdução da ultima  tecnologia em termos de energia, o vapor. No inicio do séc. XX, continuava a roda hidráulica a alimentar a indústria no concelho. Energia a vapor, não obrigado. Apesar disso, a fábrica Martins & Camello, em São Romão, já possuía máquina a vapor em 1910 bem como a Pereira & Genro, em 1913.
Mas não era só a energia que dificultava a produção, a principal matéria prima (lã)  e o crédito também não abundavam. As lãs fornecidas pelos rebanhos locais, "longaes" não sendo suficientes para alimentar a indústria da região, eram consideradas de pouca qualidade para tecidos finos. Assim tonava-se necessário ir adquiri-las ao Alentejo, apesar do inconveniente de a lã alentejana, muito suja, perder na lavagem, metade do peso. Segundo o industrial António Brandão, as lãs importadas tinham maior "quebra" que as nacionais. Conforme já referido, o crédito era escasso, porque os estabelecimentos bancários existentes na vila, não viam com bons olhos este tipo de operações e os particulares emprestavam a troco de juros de 10% ou mais.    

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