terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sabia que...

Fontes:
"Os Forais Manuelinos das "Vilas" do Município de Seia" - António H. P. Melo (2005)
"O Actual Concelho de Seia, na primeira metade do séc XVIII" - António Herculano da Paixão Melo (2003)
"Seia - porta aberta para a Serra da Estrela..." - Héstia editores (2002)

Os panos de lã começaram a ser produzidos em Portugal, ainda antes do seu nascimento. Eram panos "grosseiros" e "buréis" destinados ao povo. O clero e os nobres compravam os panos "finos" importados.
No século XII, são referidos com frequência  artesãos destes "buréis", como os "tosadores", os "tecelões" e os "tecedeiros", assim como os "teares" e os "pisões", onde os panos eram molhados e batidos para adquirirem maior consistência. À época, era um grande avanço tecnológico, montar os mesmos junto de correntes de água. Nos forais de D. Afonso, aparecem como grandes investimentos.
Nos forais de D. Manuel I, são fixadas taxas a pagar pelos "Panos finos", Seia e "Panos" em S. Romão;
Foral para Seia, concedido em 1 de Junho de 1510, na cidade de Santarém:
"Panos Finos
De todos os panos de seda ou de lã ou de algodão ou de linho, se pagará por carga maior, nove reais. E por menor quatro reais e meio. E por costal dois reais e dois ceitis. E por arroba um real. E dai para baixo soldo à libra quando vier para vender, porque quem levar os ditos panos ou de cada um deles retalhos e pedaços para seu uso, não pagará portagem, nem o farão saber.
Nem das roupas que comprarem feitas dos ditos panos. Porém, os que venderem pagarão como dos ditos panos na maneira que acima neste capítulo é declarado."
Foral para São Romão, dado em 22 de Janeiro de 1514 na cidade de Lisboa:
"Panos
E pagar-se-á mais de carga maior de todos os panos de lã, linho, de algodão de qualquer sorte que sejam, assim delgados como grossos. E assim da carga de lã ou linho fiados oito reais. E se a lã ou linho forem em cabelo, pagarão quatro reais por carga."

Assim como na actualidade, este sector já passou por muitas crises ao longo da história e no inicio séc. XVIII, as autoridades quiseram incrementar a produção local com algumas medidas. Uma delas, foi a obrigatoriedade dos militares usarem fardamento produzido na Covilhã. Na mesma altura o tratado de Methwen abria as fronteiras aos panos ingleses. Internamente, os condicionalismos eram contraditórios, como acontecia na regulamentação que proibia os tecelões da Guarda de trabalharem para os seus clientes, enquanto houvesse encomendas do Exército.
Ainda em relação ao séc. XVIII, conseguimos retirar das "Memórias Paroquiais", compiladas pelo Dr. António H. P. Melo, a seguinte informação;
Em Valezim os seus 250 vizinhos, "os mais deles mercadores de panos de vara, que se fabricam nesta terra".
Apenas sobre Valezim é referida a existência de tal comércio e fábrica, possivelmente esta actividade existia noutras terras, mas não é feita qualquer referência.
Em relação aos "pisões" existe noticia da sua existência em São Romão (11), Loriga, Valezim e Vila Cova (3 em cada) e em Alvoco da Serra (1). 
Valezim poderá ter sido, no nosso concelho, terra pioneira no fabrico de lanifícios. Era, na 1ª metade do séc XVIII, uma actividade industrial e comercial de relevo, fornecedora de receitas para os seus fabricantes (talvez artesanais) e comerciantes, por acréscimo, da população em geral.
Esta fábrica, em Valezim, fechou há cerca de 70 anos. Era movida através de uma roda hidráulica e cujo edifício ainda se conserva. Voltaremos a falar desta fábrica noutra época e noutro post. 

2 comentários:

JB disse...

Parabens pelo projecto!

Mas fiquei curiosa...
Lanificios em Valezim?
Cujo edificio ainda se mantem?
Onde?
Desconhecia tal actividade na minha terra.
Se podesse dar + informação agradecia.
Obrigada
JB

Nuno Pinheiro disse...

Agradecemos o seu comentário. Quanto à sua curiosidade, terá que aguardar.
Num próximo post, voltaremos a falar em Valezim e assim que oportuno iremos ao local. O tempo não tem ajudado.
Continue a seguir-nos...